Uma flor nos dedos. Sentada no banco com tinta descascada. Olhava o chão, e balançava os pés no ritmo da musica que saia dos headphones. Girava a florzinha lilás entre os dedos, e sorria ocasionalmente. Ele viu de longe, e achou graça da menina com o corte de cabelo esquisito, e roupas diferentes. Ele gostou das botas de cano curto que ela usava, e chegou de mansinho. Ela viu ele sentado, mas não levantou o rosto. Ouviu uma palavra abafada. Não olhou. Ouviu de novo. Tirou os headphones, deixando os descansando nos ombros. - Que? - perguntou. - Eu disse oi. Duas vezes. - Oi. - pausa -Oi. - pausa- duas vezes. Ele riu, e olhou pra frente, um lago brilhoso pelo sol matinal. Ela ja ia botando os phones de novo, ele não ia perder aquela oportunidade. - Qual teu nome? Suspiro dela. Como se fosse um incomodo. Estava fingindo. Olhou pra flor e mentiu. - Violeta. - Legal. Silêncio. - O meu é ... - olhou pro chão - Pedra. - Pedra? - É. - Legal. Silêncio. Imenso, dessa vez.Os dois olhares se cruzaram. Ela desviou mais rapido, e ele riu. Ela com os dedos um pouco nervosos procurou no bolso da camiseta xadrez um maço de cigarro, mas lembrou que não tinha comprado mais. - Tem cigarros ai? - pergunta, nervosa, mas sem transparecer muito. - Você fuma? - É. - Eu não. - Ah tá. Tô tentando parar. - Que bom. Infinito nos lábios dele, e o gosto da canela do chiclete nos dela. Mastiga vagarosamente, e ele acompanha com o canto dos olhos o movimentar do maxilar dela, e o contorno do queixo, e descendo o pescoço e o colar com um pingente escrito "Nerd". Desce... e ela vê. Pigarreia. Ele levanta os olhos, e depara com os negros dela. - Ouvindo o que? - puxa papo. - Strokes. - Legal. Gosto deles. - É, eu também. Um pouco.São coisas que ficam. - Como assim? - As pessoas vão, mas os velhos hábitos ficam. - Tipo os seus cigarros? - Não. Esses são novos hábitos . Não muito novos. Mas mais novos que Strokes. - Ah. Ele respira fundo, e solta o ar pela boca, fazendo o cabelo bagunçado voar um pouquinho pra cima dos olhos, e depois pousar sobre as sobrancelhas no seu habitual jeito de "não ligar". Ele poem a mão no bolso e tira um celular. Tecla algumas teclas , e ela fica curiosa. - Ta fazendo o que? - Pegando o seu numero. Sorriso. Outro sorriso, mais largo. O outro mais tranquilo. Mexeu no cabelo, rindo. Passou o numero. Num outro dia sairam. Deram certo. Deram errado. E agora ela ouvia Misfits nos headphones. Os velhos hábitos. E o cigarro nos lábios. Sempre novo.