Um conto de minha autoria, espero que gostem.
Perdia noites e várias noites de sono, sonhando com a recente morte da esposa. “Como ela morreu? Quem a matou?” Perguntas que não saíam de sua cabeça. Caía sobre sua cama todo o dia após o trabalho, mas em um dia, perdeu-se a potência de sua ruim atuação: foi ao médico.
— Doutor, desde que minha mulher foi dessa para melhor, não consigo aquietar na cama.
— Mas o que realmente lhe perturba?
Eduart dirigiu-se até a saída do consultório e ao completar o giro da maçaneta, sussurrou: “Sonhos”. Desmanchou-se entre a brecha da porta e se pós a chorar “Eu não consigo. Não consigo lembrar”. O Dr. Wilson sentou ao seu lado e com um ato de carinho, cariciou a perna de Eduart. “Conte-me o pouco que sabe. Que eu conto o que eu sei”, pronunciou Dr. Wilson com voz de mãe. Eduart limpou suas lagrimas e expressou “Era noite quando vinha de meu trabalho, peguei três ônibus até minha casa e quando cheguei la, minha mulher estava mor...”. Eduart engasgou-se com as próprias palavras, e despediu-se do doutor com um beijo na bochecha: “Não consigo, não consigo, não consigo mesmo. Desculpa”.
Em casa, jogou-se novamente em sua cama. Olhou para um lado. Olhou para o outro. Do lado direto, sobre um criado-mudo, uma foto de sua esposa sorrindo. Olhou atentamente cada detalhe da foto, deu-lhe um abraço robusto e uivou. Ao guardar a foto, ao abrir a gaveta, notou um bilhete borrado de sangue e nele todas as palavras eram claras: “Querido, desculpe por tudo que eu fiz, mas não consigo mais viver com essa dor. Sim, eu tenho câncer de mama”.
Novamente no consultório, pôs-se a falar: “Minha mulher se matou, pois tinha câncer”. Eles mostrou a carta para o doutor. O doutor assustou-se. Eduart exibiu seu semblante de temor. O coitado do Dr. Wilson não sabia onde enfiava a cara e pronunciou melancólico: “Você lembra apenas disso? Não se recorda de mais nada?”. Eduart cabisbaixo: “Não”. O doutor suspirou aliviado. Houve um belo apertou de mão entre os dois e Dr. Wilson pronunciou todas as silabas, bem devagar: “Conte comigo”. Voltando novamente para sua casa, ele jogou-se em sua cama. Já era noite. 1:25, 2:55, 3:00. E nada de sono. Seu corpo estava fraco, tão fraco que quando tentou se levantar, rolou cama abaixo. E debaixo da cama, cheia de sangue, uma cueca e uma bolsa; dentro da bolsa havia armas brancas. Eduart engasgou com a saliva de sua boca quando presenciar aquele cenário. Arrastou-se para a cozinha, beber água. Enquanto sentia com prazer cada gota do copo de água, em suas mãos uma shuriken, ele a domina com precisão.
“Não cara, não é isso que você está pensando. Não se precipite”. Um rosto borrado assustado. “Você que se precipitou, amigo”. Um rosto calmo. “Amor”. Um rosto muito assustado. E imagens vêm e vão à cabeça de Eduart. Lavou suas mãos, vestiu sua jaqueta preta e saiu para tomar um ar.
De manhã, no telejornal: “Dr. Wilson é encontrada morto em seu consultório. Do seu lado direito há uma foto, ele está sorrindo nela”.