Então, lá estávamos nós, como sempre. Andando de mãos dadas pelas ruas de trás da avenida, onde provavelmente não encontraríamos ninguém. Eu ria o tempo todo das piadas sem graça que você fazia, dividindo tridente de melancia, e eu, como boa apaixonada sempre com uma música de trilha sonora na cabeça. Faz tanto tempo... Eu pedia pra você me levar até em casa, mas lembro de que foram incontáveis as horas que ficávamos sentados na calçada da rua de trás pra ficar conversando, trocando beijos, sorrisos e frases idiotas. Era puro coração, era alma. Até acho que teríamos dado certo, em algum ponto que agora olho pra trás. Minha independência era mais forte que tudo, e um pouco do teu orgulho e nossas solidões misturadas. Mas isso já não importa mais, é tudo passado. - Lembro do dia que estávamos debaixo de uma arvore, que tinha pelas florezinhas rosas, tão bonitinhas. Você resolveu que queria dar uma pra mim, pulou e puxou o galho. Infeliz foi que o galho quase acabou por acertar meu olho, e arranho meu rosto. Eu não sabia se ria, ou se me aliviava por não estar cega. E você me pedindo mil perdões, beijando meu rosto, a flor caída no chão no desespero de eu quase ter perdido um olho. E a flor ficou lá. E com o tempo, o amor também. Não é culpa de ninguém, só do tempo.