Já sofri sim, de tudo que é forma possível! Até mesmo meu apelido de faculdade foi graças ao bullying, e de certa forma o próprio apelido era um bullying (que encontrei uma forma de reverter)!
Antes de mais nada, apelidos questionando minha "sanidade mental" sempre foram uma companhia constante: Louquinho, Zureta, Lelé... Até pelo simples fato de eu nunca ter me encaixado em nenhum grupo social específico, mas ao mesmo tempo ter um certo "trânsito livre" entre todos eles ao mesmo tempo.
Também contribuiu para isso o fato de ter aprendido a ler MUITO cedo, antes até mesmo de ter aprendido a falar direito (3~4 anos), e aqueles que se consideravam "menos favorecidos" tentavam de todas as formas me desmerecer por isso!
Mas enfim... Seguindo a cronologia...
No pré/maternal/jardim de infância (particular, que minha mãe me matriculou por não conseguir vaga pra mim no ensino regular tão cedo graças justamente à minha idade) tinha um carinha que vivia me enchendo - especialmente quando eu estava lendo as histórias infantis pra molecada, atrapalhando tanto a mim quanto aos outros na atividade. (Nota: as "tias" da escolinha ficaram malucas comigo, pois em menos de um mês já não tinham mais livros pra ler pros alunos! :v )
Eu fazia aquilo por simples prazer, mas ele sempre atrapalhava. Até que os outros mesmo se irritavam e davam algum jeito de fazê-lo parar - isolando-o, chamando alguma "tia" ou alguma outra coisa.
O POBREma é que minha família já passava um aperto danado na época por si só, e pra bancar a mensalidade da escolinha a coisa apertou ainda mais! E, até por retribuição à leitura, muitos colegas compartilhavam lanches comigo visto que eu sempre ia sem nada para merendar além de uma garrafa térmica plástica com leite... E por vezes ele aproveitava isso pra me chamar de "mendigo" e outras coisas assim...
Até o dia que ele me pegou "atravessado" e numa situação propícia, sem "tias" por perto na hora do recreio!
Nem lembro o que ele me fez de tão grave (mas lembro que dessa vez não ficou só nas palavras, mas sei que peguei o moleque de jeito e com uma porrada certeira na boca dele derrubei uns 5 dentes de leite! :troll:
Depois disso ele ficou quieto alguns dias até que "sumiu" da escolinha - obviamente retirado pelos pais, e festejado até pelas "tias" - que então reconheceram que o pirralho era uma das piores pestes que já tinham passado por lá!
Já no antigo Ciclo Básico (1ª~4ª séries) fui pra escola pública. A rotina de "falta de merenda" continuava, e dessa vez eu não tinha a vantagem de me destacar com a leitura. Em contrapartida minhas irmãs mais velhas (com 4 e 5 anos de diferença, respectivamente) estudavam na mesma escola, minha mãe também já tinha dado aulas lá anteriormente, e nós todos eramos muito queridos pelos demais funcionários da escola.
Ainda assim tinha um caso ou outro de alguém que me provocasse. Um em especial - que já naquela idade tinha "cara de bandido" - vivia me perseguindo. Tanto com os apelidos de "Louco" ou "Narigudo" (olhem aí do lado, e comprovem na foto de perfil que minha napa não é nada modesta realmente! ~_~') mas também me assediava fisicamente. Eu vivia apavorado com a possibilidade de ele me estuprar algum dia, mas ao invés de demonstrar esse pavor eu tentava revidar na base da força!
Desnecessário dizer que isso acarretou em diversas advertências e suspensões por brigas físicas, especialmente com esse moleque, né?!?
Mas, por sorte, minha família e a escola conseguiram gerenciar a situação até que eu me mudasse de cidade, na metade da 4ª série e graças ao ingresso da minha mãe como diretora de escola pública!
Duro é que, chegando em Iracemápolis (cidade onde minha mãe foi inicialmente efetivada - justamente na escola que eu e minhas irmãs fomos estudar!) a coisa só piorou!
Iracemápolis é uma cidade minúscula, perto de Limeira e Piracicaba. Tem um povinho pra lá de invejoso e "xenófobo"! E, como minha mãe sempre foi daquelas que "tem que dar o exemplo", eu e minhas irmãs sofremos ainda mais: arrumavam TUDO que era jeito para nos incriminar de qualquer coisa que acontecesse na escola, e pra variar minha mãe sequer nos questionava, dando sempre a punição maior para nós como diretora.
Detalhe: punição maior
como diretora - advertências, suspensões, anulação de atividades/provas/notas... Decretada ESSA punição, era comum ela pegar uma cinta ou outra ferramenta punitiva ao alcance e nos bater NA FRENTE DE TODA A ESCOLA!
"
A suspenção é a pena que te dou como diretora... Agora vou te dar a punição que acho que você merece como meu filho!"
E a coisa não se restringia SÓ à escola, claro: minhas irmãs eram frequentemente chamadas de prostitutas, bolinadas, "linchadas" com ovos podres e coisas do tipo pelas ruas... E eu era abertamente chamado de gay, ladrão, vândalo... Com direito a muito da humilhação física que elas também passado, é claro!
Foi uma época dificílima! Tínhamos pouquíssimos amigos, e mesmo nesses não conseguíamos confiar muito, sempre esperando alguma traição!
Aí, em 94, voltamos pra minha cidade natal, Mogi Mirim.
Terminar a oitava série foi relativamente tranquilo (apesar de totalizar, com a mudança de escola, OITO professores de matemática diferentes no ano) - o bandidinho de quatro anos atrás já estava preso na FEBEM, e quase ninguém mais entre os alunos se lembrava da minha passagem anterior.
Mas, quando entrei no Colegial, a coisa voltou a complicar - especialmente por causa das limitações financeiras...
A escola onde fui fazer o Colegial era pública também, mas era "tradicional" na cidade, onde todas as famílias importantes tentavam colocar seus filhos para estudar o 2º Grau. (Hey! Isso foi em 1995! Pra custear um Anglo qualquer da vida você tinha que praticamente cagar dinheiro, ou ter um baita padrinho trabalhando lá!)
A pecha de "gay" voltou com força, ainda mais que era uma época de se descobrir a própria sexualidade... Como eu não atraía praticamente nenhum olhar feminino e ainda tinha certos "trejeitos femininos" (não me interessar por times de futebol, entender de assuntos "domésticos", gostar de conversar com todos sobre qualquer assunto, tentar ENTENDER os sentimentos alheios...) - além da evidente restrição financeira - a coisa complicou de vez!
E sem NENHUM suporte por parte da escola em si (ninguém dalí tinha trabalhado com minha mãe - em Iracemápolis ainda haviam alguns funcionários que acabaram se condoendo graças aos excessos dela!)? Façam ideia da barra!
A "sorte" é que, no final de 96, meu pai pediu as contas no emprego e comprou um bar/lanchonete (pra facilitar saciar o próprio alcoolismo, mas na época o resto da família ainda não tinha noção disso), e aí as coisas apertaram tanto, mas TANTO, que no fim eu mal tinha tempo ou disposição física pra ficar me irritando com bullyes!
Terminei o Colegial, fiquei um ano parado (que eu esperava ter que cumprir o Alistament Militar), e então entrei no primeiro curso Técnico Profissionalizante.
Lá o bullying era um pouco mais "velado". Ambiente relativamente mais adulto, os maiores problemas eram fofocas pelas costas ou algum eventual grupo de estudos que "esperava o primeiro otário com costas para jogar todas as tarefas em cima". Levei até que de boas, tanto o Téc. em Adm quanto o Téc. em TI... Tive umas rusgas com um par de patricinhas folgadas e tal, mas no geral o saldo foi bem positivo!
Aí, em 2004, entrei na faculdade. O terror: pois não mais se restringia apenas "à escola" (especialmente no primeiro semestre, quando se é calouro - ou "bixo"), mas também EM CASA!
Sim... Pois como fui estudar longe (Taquaritinga) e era difícil voltar pra casa, tive que morar em república estudantil. E só voltava pra casa nas férias mesmo!
Eu sei que a primeira república que morei poderia ser chamada de assustadora: uma casa caindo aos pedaços, alugada para república graças à conservação tão precária que ninguém mais aceitou morar lá (apesar de ser uma casa bem grande, com quatro quartos e dois banheiros), e com mais uma média de 10 "pião" noiados que não queriam nada com nada além de curtir!
Quando cheguei a casa era um NOJO! Fiquei uns três dias sem "fazer o número 2" de verdadeiro nojo dos banheiros, e até dar um trato decente na cozinha nem comer lá eu conseguia! Inclusive meu apelido surgiu por isso: no 3º dia do "barro acumulando", eu já mal conseguindo segurar, resolvi lavar o banheiro externo em plena madrugada - torrando detergente, esfregão e água sanitária até no teto! Ao que levanta um dos veteranos, vê aquilo, e acorda os outros falando:
"
Esse bixo é lezado! Venham ver o que ele tá fazendo! A essa hora! Esse bixo é lezadão..."
Eu sei que, com muita dificuldade, consegui resistir morando alí até o final do semestre. Consertando tudo o que conseguia (de encanamento, calhas, até fiação elétrica), limpando a casa, lavando louça (que era comunitária - e eles sempre davam um jeito de ficar a meu encargo)... Mas assim que voltei de férias tivemos uma encrencada feia e meti o pé!
Na segunda república que morei o clima já era bem melhor... Tinha gente pra car... também, mas de um nível social mais "civilizado"! Apenas dois ou três que se achavam os reis da trollagem, mas mesmo esses tinham alguma bondade no coração.
Tanto que, quando fui atropelado, na minha terceira semana morando lá, só faltou me darem comida na boca. Literalmente!
E não foi por falta de me ofertarem!
Talvez até graças a esse atropelamento que sofri, acabou se formando um sentimento de fraternidade muito grande entre nós. Havia brigas com os "malas", sim, mas por pior que fossem as brigas acabavam se resolvendo como em toda boa família!
Só em 2006 que fui me mudar de lá - junto com alguns remanescentes que ainda não tinham terminado seus cursos - porque tivemos que devolver a casa pro proprietário. Nos juntamos com uma outra república, cujos moradores que sobraram eram muito novos (e infantís até) e se não arrumassem mais gente teriam que entregar a casa também.
Foi uma turma um pouco mais conturbada... Pois, apesar de terem um nível social semelhante, esse povo novo tinha ainda menos responsabilidade (eram muito mimados!), então era mais comum algum atrito por "você ter pego meu miojo".
Por sorte, nessa última casa havia uma empregada que era praticamente a "segunda mãe" de todos (contratada por exigência dos pais de um dos que já moravam lá); então ela conseguia apagar as crises maiores que poventura acontecessem.
E, pra encerrar, claro que na própria faculdade muita gente tirava sarro de mim.
Graças às tantas coisas que passei estando lá - o atropelamento em si, tomar um raio, ter pouco sucesso com as garotas, dormir frequentemente em sala, meu próprio apelido... - era constante a zoação. Mas aí eu já tinha passado TANTO por coisa pior que eu fazia era dar risada junto com quem ria de mim!
E isso até desmotivava os outros de tentarem me provocar!
E... É isso!
Depois da faculdade não sofri mais "bullying", não de fato. Aí eu já estava na "selva de pedra", e as coisas mudam de figura.
Bullying não é mais aquela zoação impune, mas sim coisas que frequentemente podem ser consideradas CRIME, então o povo se restringe só às fofocas mesmo! E isso, pra mim, não é nada!
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